domingo, 11 de maio de 2025

Desejo, o lastro

Oh, desejo 
como queria ser o anel
do teu terceiro dedo,
margem do teu manuscrito,
folha dependurada no teu ouvido. 

Desejo, se tu em uma palavra 
me arrancasse a palavra, 
em ti o mar descansaria
o meu seio e me deleitaria 
da espuma do teu mastro. 

Fiel, desejo inscrito, se em ti 
eu me apropriasse do lampejo, 
não mais desejaria em nós
a não ser o próprio anseio! 

quinta-feira, 1 de maio de 2025

Furians

Nós, nus, desertos 
Os inversos se escaldariam diante 
de nós, nus. Desertos

Deste ângulo obtuso, contudo,
Penso que eu me encaixaria 
em teus quadris 

Viris, teus gestos. 
O modo como você sorri. 
Para mim, um novo verso.

terça-feira, 8 de abril de 2025

uma nova vida

viver a vida duas ou três vezes:

aquela de fato vivida, 
e aquela vívida, que está inscrita 
nos meus cadernos 

assim, entro no arquivo de olhos fechados 
olho de dentro, espio o conflito
entre o que narro da memória 
e a lembrança que não pode ser narrada 
pelo simples fato de não mais existir

esqueço e recordo
como em um jogo de testemunhos:

o que nasce é uma nova vida 

segunda-feira, 7 de abril de 2025

domingo, 23 de março de 2025

devorei-o

neste final de março, 
o poema que não escrevi me acusa 

sem rancor, mas com um fiapo 
de sangue coagulado nos olhos. 

sem palavras que me justifique, 
o fito com o mesmo sangue,

este que, ao invés de nos olhos 
se pende às marginais da boca. 

não preciso dizer, 
devorei-o.